Shakira reivindica seu trono na música latina com obra fresca e contundente

Resenha

Davi Silva – Há dias atrás, quando Shakira deu a conhecer ao mundo o nome de seu novo álbum de estúdio, EL DORADO, em referência a uma lenda indígena colombiana a cerca de uma cidade feita completamente de ouro maciço, o nome me pareceu, a princípio, soberbo. Principalmente pra alguém que se destacou no mundo da música por sua honesta simplicidade. Mas, se tratando de Shakira as expectativas sempre são altas e, quando se ouve a sua nova produção discográfica, não resta dúvida de que estamos diante de um verdadeiro tesouro.  Em EL DORADO, a estrela colombiana veio mostrar porque é a artista latina de maior relevância no panorama mundial e nos entrega uma obra com uma sonoridade contemporânea, mas que flerta com ritmos que já permearam seus trabalhos anteriores. Shakira se entrega sem medo ao reggaeton e se apropria do ritmo, como se o tivesse inventado, e não se inibe ao intercalá-lo com um pop rock intenso e visceral ou mesmo com uma balada tocante, produzida apenas com voz e piano.

O novo álbum, que tem cerca de 45 minutos de duração, peca pelo excesso de colaborações, mas não rouba o protagonismo de Shakira. Mais da metade do total das 13 faixas são em parceria com outro artista. A presença de Maluma, Carlos Vives, Nicky Jam e Prince Royce traz um frescor inusitado ao trabalho e talvez seja uma forma de Shakira homenagear a América Latina, incorporando o som de seus artistas atuais mais influentes. No entanto, a presença de Black M e da banda Magic! em duas versões distintas da mesma música destoa do brilhantismo do álbum, ainda que Comme Moi seja uma ótima canção. Shakira ainda inova ao apresentar ao mundo quase metade do álbum antes mesmo de seu lançamento. Uma estratégia arriscada, mas que rendeu a EL DORADO dois Grammy’s Latinos e cerca de 3 bilhões de streamings antes mesmo de vir à luz.

Me Enamoré

Na primeira faixa, a colombiana mostra de cara a que veio, sem cerimônias. Em seus 3:45 de pura vibração, ela não tem medo de narrar o primeiro encontro com o pai de seus filhos – “Lo vi solicito y me lance” – e revela sua faceta de mulher moderna e independente, que sai a um bar, paquera, toma a iniciativa e de quebra ainda leva para casa um belo par de olhos azuis. Ainda que em certos momentos Me Enamoré soe infantil, com excessos de diminutivos e termos como “me enananamo”, Shakira parece ter encontrado uma fórmula própria de lirismo que foge do convencional e imprime sua sensualidade inocente. O ritmo urbano e as batidas de sintetizadores transformam a música naquele hit de balada, ótimo para se acabar na pista de dança com “um mojito, dos mojitos” e de preferência bem acompanhado. É um aperitivo perfeito para as faixas mais contundentes que estão por vir.

Nada

Essa é a faixa mais visceral do álbum. Os vocais precisos e a poesia tocante formam uma combinação irresistível e soa como a Shakira de anos atrás, porém mais madura. A letra lembra a escrita de Gabriel García Marquez em versos como “Voy caminando sobre un mar de hojas secas, vuelan los ángeles sobre Berlín (…) mientras la lluvia cae dentro de mi”. É puro realismo mágico e demonstra uma Shakira ciente de suas prioridades e centrada em seus sentimentos. Nada é uma daquelas canções que seus acordes nos fazem arrepiar a pele, é um pop rock viciante, a música coringa para se ouvir em momentos de fossa ou excitação plena.

Chantaje

Não é à toa que ela é o cartão postal do álbum para o mundo. Shakira explora e dá uma roupagem nova aos ritmos urbanos em alta na América Latina e divide os vocais com seu compatriota, Maluma. Com uma química perfeita entre os dois, a melodia é viciantemente sexy e os vocais de Shakira dão ainda mais força ao diálogo na canção, que é uma verdadeira batalha de sedução. Impossível resistir a essa mistura, tanto que o videoclipe da canção já ultrapassou com folga a marca de 1 bilhão de visualizações no Youtube e esbanja certificados nas plataformas digitais mundo a fora.

When a Woman

Aqui Shakira pede licença para falar em inglês pela primeira vez no álbum, que ainda conta com mais duas canções nesse idioma. Em When a Woman, a colombiana soa mais pop que no restante do álbum e brinda um hit radiofônico gostoso e empolgante, mas está longe de ser a melhor faixa da produção. Em versos como “Manipulate, cause your pain. But lift you up when you’re hurting”, ela mostra o quão paradoxal pode ser o amor de uma mulher e afirma prepotente que apenas uma mulher pode amar tanto e ao mesmo tempo levar um homem ao inferno.

Amarillo

Amarillo é uma das minhas faixas preferidas. A letra é uma poesia acertada, um brinde ao amor, mas sem clichês. Shakira consegue inserir uma expressão em catalão, T’estimo, sem parecer forçada.  A música flui de modo natural do início ao fim, com um refrão poderoso, mas tênue. É uma faixa equilibrada, que te faz querer curtir o momento. Amarillo soa atemporal, poderia facilmente se encaixar em qualquer um dos discos anteriores de Shakira.

Perro Fiel (feat. Nicky Jam)

Shakira deixou para a metade do álbum a canção mais empolgante. Perro Fiel já cativa logo nos primeiros acordes, com uma entrada pitoresca produzida em sintetizador que cria um efeito de suspense e que leva ao refrão explosivo e pegajoso. Shakira acertou em cheio ao produzir um reggaeton com R maiúsculo. A música tem cheiro de hit da primeira à última estrofe. A parceria com um dos nomes mais influentes do gênero, Nicky Jam, foi a cartada final para tornar a faixa perfeita. A combinação deliciosa do charme e sedução de Shakira com a voz meio rouca e sexy de Nicky eleva a faixa a outro nível. A colombiana invade o mundo do reggaeton sem medo e se faz soar como uma verdadeira nativa.

TRAP (feat. Maluma)

Maluma de novo? Sim, mas quem espera ouvir uma Chantaje 2.0 pode tirar o cavalinho da chuva. Shakira não repete fórmulas e como o título da canção sugere, a estrela se rende ao gênero trap em uma faixa que vai te fazer molhar os lençóis, sem exagero. É sensualidade ao nível máximo e, que em certos momentos, pode até parecer pornográfica. “Te muevete em cima de mi, compláceme (…) dale uma prueba, ponle Nutella”, canta Maluma em alguns versos em referência direta a um ato sexual.

Comme Moi (feat. Black M)

Uma fusão de rap, dance hall e urbano, Comme Moi é uma faixa fresca e muito gostosa de ouvir. O ponto alto fica por conta da voz de Shakira e ouvi-la cantando em francês é sempre um mimo, mas a faixa já está presente também no álbum de Black M e poderia ter dado lugar a uma faixa inédita da cantora.

Coconut Tree

Aqui o baixo e a guitarra elétrica se juntam ao teclado para uma faixa leve e melódica. Ela narra uma fuga de Shakira com Piqué para um paraíso tropical deserto, em que puderam brindar seu amor embaixo de um coqueiro e livres da correria do mundo. É uma canção com uma pegada mais indie e que suaviza o álbum, após uma sequência de canções mais explosivas.

La Bicicleta (com Carlos Vives)

Um dos pontos altos da produção, La Bicicleta é uma verdadeira relíquia em EL DORADO. A canção começa com o som da flauta de millo, instrumento típico da Colômbia, e cai em uma pista envolvente que mescla cumbia, reggaeton e vallenato. A faixa é uma espécie de cartão postal de Barranquilla e nela os artistas nos convidam para um passeio de bicicleta pelos principais pontos turísticos da cidade natal de Shakira.

Deja Vu (com Prince Royce)

Aqui Shakira se rende à bachata, ritmo da República Dominicana em ascensão na música tropical. A letra tem um viés romântico e resgata certa melancolia de um amor que provoca feridas. A voz de Prince Royce se destaca na faixa e o torna protagonista.

What We Said (feat. Magic!)

A versão em inglês de Comme Moi não agrada tanto quanto a original. A canção não chega a ser ruim, mas destoa do restante da produção e soa fraca para um trabalho que tem faixas como Nada e La Bicicleta. Nem a participação da banda canadense Magic! salva a canção de um ponto abaixo da média.

Toneladas

Shakira guardou para o final a primeira canção que compôs para esse projeto, como uma espécie de metáfora. Como se quisesse dizer que EL DORADO acaba em seu começo ou que permita um círculo vicioso, um convite para uma nova audição. E vale a pena. A faixa é uma balada tocante, somente voz e piano. Nela, Shakira se abre sem pudor, desnuda seus sentimentos mais íntimos e faz uma belíssima dedicatória a seu amado. Sem sombra de dúvidas, é a canção mais bonita de todo álbum e o fecha com chave de ouro.

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