Público se derrete com apresentação de Shakira em Whenever, Wherever. Cantora representou Bachué, divindade indígena de tribo colombiana
Shakira nunca foi de usar alter-egos. Ela sempre se destacou por sua simplicidade honesta no palco, por vezes caminhando com os pés descalços, acompanhada da gaita ou do violão, seu tradicional balanço de cadeiras e sua voz inconfundível. É Shakira e só. A colombiana sempre se desvencilhou da imagem de diva, ainda que seus sucessivos hits, inevitavelmente, lhe imputem o título. Mas ontem (03), pela primeira vez, ela se permitiu a ousadia de mudar. Quando Shakira saiu do palco, ainda na metade de seu show ontem em Hamburgo, após a apresentação de Chantaje, quem voltou em seu lugar foi uma verdadeira divindade. A cantora era agora Bachué, a deusa mãe, criadora de toda a humanidade.
Com um traje negro e dourado, adereços esvoaçantes , ventre parcialmente exposto e máscara, a cantora estava pronta para dar vida à arena com seus passos hipnotizantes de dança do ventre. O público estava completamente rendido.
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O conceito da apresentação é totalmente baseado na lenda indígena da criação do Universo, do povo Muiska. Os muiskas eram uma tribo indígena que habitava a região do Platalto Central da Colômbia, antes da chegada dos espanhóis. Reza a lenda, que antes de tudo havia apenas a escuridão e no meio dela havia algo grande. Era Chiminigagua, o deus supremo. Dentro dele havia luz. Chiminigagua, em certo dia, resolveu abrir sua barriga e feixes de luz começaram a sair. Ele, então, criou dois pássaros negros que saíram carregando sua luz e iluminando todo o universo. Em seguida, ele criou outros deuses: o sol, chamado de Sue, a lua, chamada de Chia, o arco-íris, a quem deu o nome de Cuchavira e a bela Bachué, deusa mãe, criadora de toda a humanidade.
A missão de Bachué era povoar toda a terra. Segundo a lenda, ela apareceu em uma laguna carregando uma criança de cinco anos. Depois que a criança cresceu, eles contraíram matrimônio e tiveram inúmeros filhos, enchendo a região. Eles difundiram valores vitais e ensinaram os povos a construir, tecer, pescar, lutar, amassar o barro e trabalhar com os metais. Quando, por fim, sua missão estava concluída, ela voltou com o esposo para o lago. Para celebrar a sua criadora, os Muiskas tinham a tradição religiosa de levar oferendas em ouro à laguna. Essa e outras tradições semelhantes deram origem ao mito de El Dorado, a cidade perdida de ouro, que batiza o álbum da artista colombiana e sua atual turnê.
Em Whenever, Wherever, Shakira percorre todo o palco levando os acordes de sua música a todos os cantos, e suas notas rítmicas dão vida à plateia, que a essa altura, está toda de pé, batendo palmas, dançando e cantando junto. A sessão de Belly Dance é o toque final, que traz ainda mais encanto a uma atuação sem “poréns”. Com sua missão cumprida, Bachué pode retornar de onde veio, do fundo do palco e devolver à Shakira o seu lugar no espetáculo.