Levi Tavares – Ela fez mais do que qualquer outro artista já fez em cerca de 7 minutos no show de intervalo do Super Bowl. No último domingo (02), Shakira mostrou aos EUA e ao mundo uma explosão de ritmos e sabores, desfilando com graça e elegância seu talento para milhões de telespectadores. Em uma noite feita para a música latina brilhar, a colombiana fez uma homenagem às suas raízes culturais e, junto a sua colega Jeniffer Lopez, brindou alguns momentos que ficarão marcados na história do evento.
Shakira abriu a noite com um ponto comum. A cantora começou seu espetáculo de forma despretenciosa, com uma coreografia marcada que já havia usado em um evento em novembro. Com um sonoro “Hola, Miami!”, sim, em espanhol, ela inicia uma sequencia de hits com She Wolf, seu pop mesclado com EDM e um uivo no refrão de 2009. Com um look vermelho, assinado pelo estilista norueguês Peter Dundas, a colombiana dançou freneticamente acompanhada por um conjunto de bailarinas que a seguiria por boa parte do seu show. Foi só um aquecimento para o verdadeiro show que se seguiria.
De forma tão natural e honesta, Shakira deu um giro de 180º no espetáculo e encarnou uma rockstar ao interpretar seu tema de 2014, “Empire”. Potente e com sua voz forte marcante, a cantora esbanjou atitude ao protagonizar um solo de guitarra ao lado de dois músicos. Que diva pop teria a coragem e o atrevimento de meter Led Zepellin e uma guitarra forte no meio de seu show no Super Bowl? Aumentando ainda mais a temperatura, que já havia subido consideravelmente no centro do Hard Rock Stadium, a colombiana entoou os primeiros versos de “Ojos Así” (1998), para então produzir um dos momentos mais estéticos e memoráveis de sua apresentação. De forma concisa, ela deu seus tradicionais passos de belly dance com uma corda e se joga no chão, para introduzir um dos maiores hits de sua carreira: “Whenever, Wherever”. Não consigo imaginar ninguém na indústria pop atual que consiga transitar de forma tão natural e coesa do EDM para o rock, do rock para a música árabe em questão de minutos. Shakira o fez. Talvez seja aquilo que o saudoso Gabriel García Marquez já havia dito sobre ela: “A música de Shakira tem uma marca pessoal que não encontra pares. Ninguém canta nem dança como ela, em nenhuma idade, com uma sensualidade inocente, que parece ter sido inventada por ela”.
Aos 43 anos, completados naquela noite diga-se de passagem, a colombiana mostrou fôlego e disposição de causar inveja em muita gente jovem por aí. Ao som de “I like it”, ela convidou ao palco o astro porto-riquenho de música urbana, Bad Bunny. Os dois engataram uma versão de Chantaje, ao ritmo de salsa, e Callaíta, sucesso do cantor. Para fechar seu show, a estrela optou por seu maior sucesso nos EUA, a música “Hips Don’t Lie”. O estádio vibrou com Shakira se jogando para o público e sendo carregada e ovacionada como uma verdadeira rainha do povo, em uma cena que remete ao clássico de Game of Thrones, quando Khaleesi é carregada no ombro pelos escravos que ela libertou no final da terceira temporada.
O espetáculo da colombiana foi uma verdadeira homenagem à suas raízes colombianas e à sua herança cultural do Oriente Médio. Os avós paternos da cantora são libaneses e seu nome em árabe significa “mulher cheia de graça”. E Shakira encheu a noite de domingo de graça com suas danças étnicas que evocam ao Caribe colombiano, como a cumbia, o mapalé e a champeta. Ao mesmo tempo, protagonizou o momento que mais viralizou nas redes sociais sobre o show do intervalo: seu icônico trinado com a língua em Hips Don’t Lie, já velho conhecido dos seus fãs, mas que causou frisson nas redes e uma enxurrada de memes.
O gesto, que na verdade é uma zaghrouta (ululação), é uma tradição da cultura de alguns povos árabes, usada em celebrações diversas. O impacto foi tanto, que veículos como BBC, Washington Post, Folha de São Paulo, The New York Times e El País, publicaram artigos explicando o significado cultural do gesto.
A festa continuou com um show poderoso de JLo e terminou com as duas cantoras celebrando a musica latina com um mix de Let’s Get Loud e Waka Waka (This Time for Africa), com direito a cantora colombiana tocando bateria e um “duelo” épico de dança no ato final. Mágico, colorido, bonito de se ver. Um show histórico para a música latina.