Review: ‘Shakira in Concert: El Dorado World Tour’ coloca o espectador no centro do show

Josimar Rosa – A principio, a escolha de trazer o diretor James B. Merryman para a direção do registro da turnê El Dorado parecia arriscada. Afinal, até aquele momento Merryman não possuía nenhum crédito como diretor de longa metragem, embora possuísse um longo histórico em eventos como o Billboard Music Awards ou o Victoria’s Secret Fashion Show. Esta experiência em capturar eventos de palco e traduzí-los para a mídia audiovisual certamente é instrumental na criação de ‘Shakira in concert: El Dorado World Tour’, mas nem de longe é o que torna a obra especial.

O filme de pouco mais de duas horas usa como base dois shows gravados na arena The Forum, em Los Angeles e o registro de Merryman é eficiente e refinado. A fim de reproduzir de maneira mais fiel o possível a experiência do show, o diretor tenta interferir o mínimo o possível no material sem se furtar aqui e ali de momentos mais elegantes (como o belo contra zoom que capta em um plano aereo um dos momentos-chave de ‘Whenever Wherever’, beneficiando-se da animação da passarela de LED) . Como resultado, temos uma produção que se não interage frequentemente com os backdrops exibidos nos telões atrás de Shakira – há raros momentos em que seus gráficos são transportados para o primeiro plano, como acontece em ‘Me Enamore’ ou mesmo o rápido arroubo em preto e branco de ‘Estoy Aquí’ – tampouco os ignora, conferindo-lhes certo protagonismo quando julga necessário. É o que acontece durante a bela performance de ‘Tu’, filmada em grande parte através de planos abertos nos quais Shakira surge mergulhada na bela projeção que acompanha a performance. Esta decisão, porém, parece muito mais justificada pelo ímpeto do diretor de ser fiel à experiência original desejada para aquele número específico do que uma mera questão de estilo.

O diretor também alcança soluções técnicas que evitam problemas já vistos em outros shows de Shakira. Mesmo nos momentos mais coloridos ou ao longo das inúmeras chuvas de confete que permeiam o espetáculo, jamais vemos o efeito pixelado que assolava, por exemplo, o registro da ‘Oral Fixation Tour’ mesmo em sua edição em blu-ray e particularmente visível no número de ‘Hips Don’t Lie’ daquela obra. E nem mesmo a guitarra metalizada usada em ‘Inevitable’ – um dos momentos mais enérgicos e belos do filme – representa um problema, já que o diretor parece sempre posicionar sua câmera evitando que os incômodos reflexos recaiam sobre a câmera.

Mas o que torna ‘Shakira in Concert’ uma experiência tão mágica e agradável não é o que está sobre o palco, por mais agradável que seja vê-la apresentando hits como ‘Chantaje’ ou ‘Perro Fiel’ pela primeira vez. O que torna esta experiência tão especial é exatamente o que o público que esteve naqueles shows não viu, e neste aspecto a montagem do filme tem papel crucial. Concebido sobre um tripé que contempla o espetáculo, seu processo criativo e a experiência do público com seu produto final, o filme alterna de maneira fluída entre estes três elementos. Assim, ao invés de se propor a ser um registro fiel e completo do show apresentado naquela noite, como as gravações de show normalmente fazem, ‘Shakira in Concert’ encara cada uma das performances musicais daquele espetáculo como um mero capítulo, alternando-o constantemente com imagens de bastidores que, com acesso amplo e aparentemente irrestrito, presenteiam os fãs com um grande insight sobre o processo criativo da colombiana. E se cenas de bastidores em geral sempre captam o artista de modo mais relaxado, despido da persona pública que ele comumente cria para si mesmo, aqui estes momentos nos permitem ainda mensurar o real nível de controle que Shakira tem sobre seus projetos – e que aqui parece cobrir desde os fogos de artifício usados no show até a mixagem das músicas gravadas em estúdio.

É claro que todo documentário que tem o envolvimento direto do artista que retrata tende a assumir, afinal, exatamente a imagem que o artista pretende passar para seu público, mas a figura doce e relaxada de Shakira, quase sempre pouco preocupada em parecer sempre linda, dificilmente se encaixa neste perfil auto-indulgente – algo especialmente visível na decisão da cantora, que serve como co-diretora do projeto, de jamais transformar sua lesão nas cordas vocais que adiou a turnê em um melodrama. Ao contrário, na maior parte do tempo sua preocupação parece realmente ser com o produto final que apresentará a seu público, e neste sentido, ‘Shakira In Concert’ triunfa enormemente, já que todas as performances que vemos são constantemente permeadas por imagens que mostram a reação do público. E estas não surgem apenas nas baladas, em um momento aqui e outro ali como é costumeiro neste tipo de produção. O espectador tem posição de destaque nesta obra, e ver fãs que se emocionam, choram ou cantam animadamente as muitas músicas do repertório de Shakira certamente contribui para a identificação que é tão importante para que uma produção cinematográfica dê certo.

O esforço em apresentar um filme sobre o show e não meramente um show gravado em filme é o maior trunfo de ‘Shakira in Concert: El Dorado World Tour’. Valorizado incrivelmente pelo modo como capta a energia do público, o filme sobre a turnê se torna uma experiência extremamente recompensadora para os fãs de longa data da colombiana mais famosa do mundo pelo modo como denota amplo conhecimento de sua carreira – algo evidente pelo uso de imagens icônicas de momentos diversos de sua carreira – mas também pela forma como estabelece que no fim o que importa não é tanto a música, mas o prazer que traz ao espectador.

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