Resposta parece estar no seu forte apelo global e no pioneirismo em experimentar novas plataformas
Levi Tavares – Números estratosféricos. Shakira é uma das poucas artistas que se lançaram na música nos anos 90 que não foi atropelada pelo tempo e pelas transformações da indústria musical. Um mercado, que parece privilegiar as produções de artistas mais jovens, ainda encontra espaço para abrigar uma cantora colombiana de 44 anos que vem triunfando desde 1995. E não é pouco espaço. A estrela latina exibe números assombrosos. São mais de 80 milhões de discos vendidos na carreira. No Youtube, seu canal oficial conta com mais de 20 bilhões de visualizações, sendo a 5ª artista mais assistida da plataforma no planeta. Na frente dela estão apenas quatro cantores mais jovens, que alavancaram suas carreiras de 2007 em diante e com a “vantagem” de serem nativos de duas potências do mercado de música global: EUA e Reino Unido. São eles: Justin Bieber (26), Ed Sheeran (29), Katy Perry (36) e Taylor Swift (31). Eles já entraram na indústria na era digital, quando downloads em aplicações e plataformas como o Youtube já faziam parte do setor fonográfico. Mas não para por aí. Shakira ainda conta com bilhões de fluxos sob demanda em serviços como Spotify, Deezer, Pandora e Shazam. Suas redes sociais exibem milhões de seguidores, que interagem velozmente e em grande volume com suas publicações. Segundo sua gravadora, somente no último ano, a colombiana garantiu 4 billhões de streamings combinados. Uma cifra que se torna ainda mais impressionante quando nos atemos ao fato de que ela lançou apenas uma música inédita e uma colaboração com outro artista no período. Mas, afinal de contas, qual é o segredo do sucesso de Shakira na era do streaming?
Para muito além do talento
Inegavelmente, o talento da colombiana tem papel fundamental no tamanho e persistência de seu sucesso. Mas seríamos ingênuos em creditarmos tudo na conta dele. Diversos artistas talentosíssimos acabaram estacionando suas carreiras com o passar dos anos. Mas Shakira não caiu no ostracismo como alguns de seus pares. Ela vendeu milhões de cópias na era dos discos físicos, em que vinis, cassetes e CDS dominaram a indústria. Na transição para a era digital, sua música continuou sendo um catálogo atrativo. Somente, no Itunes, a principal plataforma de download da época, a colombiana vendeu mais de 20 milhões de cópias. Número que a coloca a frente de recordistas de vendas como Beyoncé, JLo, Black Eyed Peas, Queen e Sam Smith, apenas para citar alguns. Os dados são do Kworb e contabilizam as vendas de agosto de 2010 em diante e a posicionam entre os 30 artistas mais vendidos do serviço. Seria natural que a cantora diminuísse o ritmo ao atingir o que chamo de “ponto de maturação”, que ocorre quando o artista atinge seu topo, depois de uma trajetória ascendente e começa a descer, como uma parábola. Apesar de alguns pontos baixos na carreira, Shakira manteve sua estabilidade e mesmo com a transição para a era do streaming viu seu nome ser destaque entre os que exibem grandes números.
Alcance Global
Um dos pontos chave que ajudou a colombiana a garantir números expressivos de streaming é seu alcance global. Shakira é uma das poucas artistas que verdadeiramente têm um impacto entre públicos de diferentes espectros geográficos. Sua música soa dos EUA ao Japão, do Brasil à África do Sul, da Colômbia aos Emirados Árabes, da França à ìndia, da China ao México. Ela tem forte presença em mercados emergentes, principalmente os da América Latina, região que mais tem aumentado o consumo de música licenciada nos últimos quatro anos, segundo a IFPI. Também pesa nesse contexto, o boom da música latina favorecido pelo reggaeton e outros ritmos urbanos. De certa forma, ela também acabou sendo beneficiada por um movimento que globalizou a música feita em espanhol.
Pioneirismo
Ser global, no entanto, é apenas uma variável dessa equação. O gigantismo da cantora nas plataformas de streaming também pode ser explicado por seu pioneirismo. Shakira foi a primeira artista a experimentar alguns modelos tecnológicos que mais tarde seriam incorporados à indústria como um todo. Em 2005, quando praticamente não se ouvia falar de streaming, a estrela foi convidada para um projeto que seria um embriao do modelo de fluxos sob demanda que conhecemos hoje. A MTV lançava uma parceria com a Sony BMG e a Epic – gravadoras de Shakira – para lançamentos de conteúdo multiplataformas para transmitir álbuns online. A idéia era que usuários de celulares pudessem escutar os álbuns dos artistas em seus telefones móveis uma semana antes do lançamento oficial. Assim, em um especial de 30 minutos (além de outros conteúdos exclusivos) transmitido em 167 países e disponibilizado online para plataformas móveis, a cantora inaugurava um modelo que iria alimentar a indústria uma década a frente e salvar o mercado do fantasma da pirataria digital.
Cinco anos mais tarde, em 2010, Shakira seria novamente a primeira artista a experimentar uma nova tecnologia. Com o sucesso do seu hit “Waka Waka (This Time for Africa) para a Copa do Mundo, a Sony decidiu que era o momento de gravar um videoclipe em 3D e assim, a colombiana foi a primeira artista da história a ter um material gravado com esta tecnologia. Apesar do 3D não ter vingado para além do cinema, a familiaridade da cantora com a vanguarda tecnológica garantiu que o vídeo, mesmo em seu formato tradicional, garantisse muitos fluxos sob demanda. Hoje são mais de 2,7 bilhões de visualizações, sendo o mais visto da artista.
Shakira também é destaque por fazer uso assertivo das redes sociais. Sua página do Facebook foi a primeira a alcançar 100 milhões de curtidas, feito que foi eternizado no Guiness Book, o famoso livro dos recordes. Em ouras redes como Instagram e Twitter, sua presença tem garantido uma maior proximidade com a audiência e um canal que diminui a distância entre quem produz o conteúdo e quem o consome. Ela também tem sido destaque no uso de novas aplicações para smartphones, como Viber, Filtr, Boomerang e Tik Tok. O app queridinho do momento, o Tik Tok, é o exemplo mais recente do uso da tecnologia como aliado em carreiras musicais. Ao lado da turma do Black Eyed Peas, a colombiana lançou a faixa “Girl Like Me”, cujo vídeo foi todo pensado para viralizar no apicativo. E deu certo! A coreografia icônica inspirada em Jane Fonda e seu Flashdance rendeu inúmeros vídeos de usuários em seu famoso #challenge, o que acabou por repercutir em serviços como Youtube e Spotify. Nos dois serviços, a faixa soma mais de 300 milhões de streamings.
A colombiana continua sendo uma força na indústria fonográfica, mesmo com 30 anos de carreira. Seu nome parece não querer sair tão cedo do topo das listas de popularidade, mesmo diante das inúmeras mudanças do mercado. O segredo está em uma fórmula que combina talento, determinação, visão de longo prazo, trabalho em equipe, alcance global e pionerismo. E assim como seus quadris, os números não mentem e eles estão a dizer: “Shakira é uma potência que domina e vai continuar dominando por muito, muito tempo”.