Capa da Vogue México pela primeira vez, Shakira inicia nova era

Foi dada nesta terça-feira, 22 de junho, a largada para a nova era de Shakira. Capa pela primeira em sua carreira da revista Vogue México, a cantora falou sobre os planos para o próximo disco e o desejo de sair em turnê em 2022.

Confira o texto escrito por jornalista Joan Escutia, que frequentemente remete ao famoso perfil escrito sobre a colombiana pelo conterrâneo Gabriel García Márquez:

A cantora colombiana protagoniza sua primeira capa da Vogue México e América latina. Shakira tem uma conversa honesta sobre a intenção de sua música e tudo o que vem para ela.

Não faz muito tempo que um dos perfis musicais mais icônicos da história completou 22 anos. Nele, o então colunista Gabriel Garcia Márquez descrevia uma jovem Shakira como “inteligente, insegura, recatada, doce, evasiva e intensa”. Uma série de adjetivos que parece ter se fortalecido com o passar de todos estes anos. Hoje, a colombiana Shakira pode não parecer aquela mulher que com apenas 21 anos gravou um par de discos perfeitos que a levariam a se transformar em uma das maiores estrelas da música latina. Contudo, basta alguns minutos de conversa com ela para se dar conta de que, na realidade, ela não mudou muito. Pode ser alguém que quebrou todos os recordes possíveis no mundo da música e que ganhou prêmios de sobra na indústria, mas suas virtudes humanas permanecem intactas. “Não sou muito fã de mim mesma”, assegura ela nesta entrevista para Vogue. “Sempre escuto as coisas que fiz e digo ‘isso poderia ter sido melhor’, nunca estou completamente satisfeita”. São palavras que não parecem vir de alguém que conquistou o mundo com sua arte, mas sua reflexão é ainda mais profunda: “Esta insatisfação não é completamente negativa, tem alguma coisa de boa. Nunca quero voltar ao que já fiz, quero seguir para o outro lado”.

Hoje em dia, Shakira continua sendo esta pessoa doce e intensa. “A curiosidade sempre foi meu motor, o não saber para onde ir e não ter nada claro. Isso tem sido um bom aliado. Se eu tivesse tanta confiança e segurança no meu talento, talvez já tivesse abandonado isso tudo. Mas nunca acreditei em tudo”. Diz alguém que, com 13 discos impecáveis, conseguiu se reinventar constantemente através de uma arte que parece estar cada vez mas viciada.

“As pessoas ao meu redor sempre tentam me lembrar o que eu significo a nível artístico e musical, mas eu me esqueço do que já consegui e sempre quero mais”. Se trata de uma pessoa que parece permanecer próxima de seu público a todo momento. Dentro e fora do estúdio, em cima e embaixo do palco, Shakira parece nos lembrar que é tão humana quando as milhares de pessoas que a escutam. Basta notar como viveu a pandemia global para se dar conta. “Como todos nós, com preocupação, incerteza, com certo estresse, sobretudo por meus pais, pelas pessoas mais velhas, pessoas da família que estiveram expostas a doenças. Mas ao mesmo tempo tentando, dentro dos momentos de confinamento, aproveitar para fazer coisas que não podia em uma vida normal. Aproveitando para estar mais com os filhos e a família”.

Shakira também é essa pessoa inteligente e recatada. Como artista, viveu eras distintas e soube não apenas brilhar em todas elas, mas também aprender com cada uma. Se houve uma artista latina que conseguiu permanecer relevante mesmo apesar do excesso de informação, foi ela. Sua música sempre está pensada para o momento que deseja marcar. Não importa se foi antes da dominação latino americana de hoje ou depois da explosão das plataformas de streaming, sua inteligência lhe permite ensinar algumas lições importantes. “A globalização e a explosão das redes sociais permitiram derrubar muitas barreiras e preconceitos que existiam contra a música latina, quando os que tinham o poder de tocar esta música para as pessoas, para os ouvintes, eram só uns poucos. Agora as pessoas mandam, e não é o diretor de uma estação que decide quem toca no rádio. São as pessoas, a voz do povo. Não há mais um senhor de terno e gravata decidindo o que se escuta e o que não.

Há uma liberdade em sua música que parece se fazer presente em todo momento e com a qual pode criar colaborações memoráveis ao longo de todos estes anos. “As colaborações têm sido também um prefácio a novas eras musicais”, assegura, ao falar delas como um espaço para a experimentação conjunta. “’La Tortura’ (com Alejandro Sanz), por exemplo, abriu uma nova etapa musical na minha vida, uma música essencialmente de reggaeton, que era uma coisa muito local em Porto Rico”. Aquela música conseguiu trazer tempos mais otimistas para a música latina e, talvez, profetizar sua onipresença de hoje em dia. “Esta música marcou uma etapa, porque comecei a me envolver um pouco mais com os sons latinos e a nova pegada latino americana: o que estava acontecendo em Porto Rico, na República Dominicana no nível musical e tentei levar tudo isso a uma escala global, mas sempre fazendo um trabalho um pouco antropológico de investigar o que acontece em cada cultura”.

Se Shakira soube se reinventar de novo e de novo, não foi apenas graças a sua visão, mas também a uma astúcia que vai mais além do terreno meramente musical e que a mune com perspectivas mais completas, com valores mais profundos e estudados. “Tenho sido uma pessoa essencialmente curiosa e interessada na cultura. Amo cultura,amo as diferentes idiossincrasias, amo pesquisar e isso me alimenta artisticamente. A partir daí, faço meu trabalho de investigação e experimentação no estúdio de gravação”.

Esta astúcia a levou a criar uma carreira impecável que não deixa de olhar para suas raízes, tanto colombianas quanto árabes. Em outro contexto, estes pareceriam ser dois mundos distintos e distantes, mas nas mãos de Shakira se convertem em uma irmandade especial. “São aparentemente distantes, mas estão muito enraizados no Caribe colombiano com a imigração dos países árabes, sobretudo o Líbano e a Síria. Foi uma migração muito grande. Em um momento se misturaram estas duas culturas de modo que já são, de alguma maneira, inseparáveis”. Ela tem nos mostrado isso em seus discos, em suas apresentações e até no Super Bowl 2020, um dois maiores feitos de sua carreira até o dia de hoje e um evento cheio de obstáculos que a deixou uma reafirmação que parece ser o mantra de uma vida: “Foi muito estressante, mas parece que esse é o meu karma, meu destino: o de que sempre ter que sofrer para conseguir algum tipo de recompensa no final. Às vezes penso que trabalho mais do que o necessário para conseguir algo, mas é assim que é”.

Esta conquista permanece, de longe, como uma celebração coletiva.  Sua performance em conjunto com Jennifer Lopez poderia ser traduzida como o símbolo de um tempo em que a latinidade se encontra em todos os cantos do planeta, sempre latente e sempre cheia de orgulho. “De um ponto de vista sociopolítico, foi um momento importantíssimo para os latinos, para as latinas, para as mulheres da minha idade, foi um statement importante e quisemos – tanto Jennifer Lopez quanto eu – deixar os hispanos em um lugar de respeito e de admiração a nível global e acredito que isso nós conseguimos”.

A análise e a reflexão são nada distantes para ela. Uma passada por seu extenso catálogo deixa ver isso de imediato. Com suas músicas, não apenas consegue criar hinos dedicados ao sentimento, mas também desenvolve importantes reflexões sobre o estado do mundo que a cerca. Sua música sempre está cheia de significados entre linhas, uma capacidade que muitos ai fora compartilham e que é produto de sua paixão por leitura e aprendizagem. “Primeiro penso, depois escrevo. Às vezes faço uma reflexão imediatamente depois de escrever algo que envolva alguma opinião política para saber se isso que estou dizendo realmente vai ter um efeito positivo ou negativo nas pessoas. Eu reflito. Faz pouco tempo escrevi uma música com certo conteúdo político e social e estou pensando se realmente vale à pena ou não. Tem muitas coisas que guardo pra mim. Entendo que tudo o que digo tenha uma conseqüência e um impacto para os outros e tento ser cuidadosa e prudente”. É algo que tem marcado sua carreira desde sempre e que a levou a criar uma fundação que não para de ajudar sua Colômbia natal há muitos anos: “ Conto com uma equipe espetacular de gente trabalhadora e entregue ao trabalho social que entende muito do tema. Me sinto muito bem mobilizada em uma fundação que funciona todos os dias trabalhando para melhorar as condições de vida de tantas pessoas e cada dia com novos sacrifícios e objetivos. Sei o que está acontecendo no meu país e sempre estamos buscando melhorar o serviço que prestamos na comunidade”.

Esta astúcia lhe permitiu se manter nos ouvidos e no coração do mundo e é, também, o que a mantém pronta para um regresso triunfal à música. “tenho a sensação de que estou a ponto de fazer algo distinto de que já fiz antes e mais evoluído no aspecto sonoro também. Agora mesmo tenho uma música que é a que quero fazer há muito tempo. Estou muito animada e à espera, com grande antecipação com o que vou apresentar e com o que vou seguir fazendo”.

Se a García Márquez faltavam adjetivos para descrever Shakira, alguém poderia adicionar mais alguns: humana, especial e, sobretudo, apaixonada. Hoje Shakira é alguém a quem os anos pesam pouco e que não e permite cair pelo peso de uma carreira que mudou milhões de vidas. “Me sinto com muita energia, com vontade de trabalhar e muito inspirada. Estou a todo gás, fazendo muitas músicas. Estou no processo de mixagem desta música que vai sair em julho. Acabei de gravar o vídeo e estes dias estou dedicada a editá-lo, terminar a mixagem da música e prepará-la para que saia em julho. Tenho muitas esperanças colocadas nesta música, muita expectativa e muita vontade”. Hoje Shakira é essa pessoa que olha para o futuro com otimismo e que vislumbra tempos mais brilhantes. “Vão continuar saindo músicas ao longo deste ano que terminarão em álbum que acredito que estará disponível no ano que vem. Também tenho muitas vontades de voltar a fazer shows. A idéia é sair em turnê no ano que vem, no verão. Acho que no ano que vem em algum momento vou sair em turnê outra vez. Estou muito animada com tudo isso. Depois de desfrutar da calma, agora começa outra vez toda a atividade. 

Sem mais, em um mundo que começa a se adequar a uma nova normalidade e que começa a pôr em marcha a aprendizagem de um período caótico, cheio de instabilidade e fechamentos permanentes, Shakira parece brindar uma mensagem especial que divide com o próprio García Márquez: A vida não é nada senão a sucessão contínua de oportunidades para sobreviver. Shakira está de volta, sobreviver será um pouco menos complicado a escutando.

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