Levi Tavares – Definitivamente, a forma como consumimos música mudou. As plataformas de streaming colocaram na mão dos usuários o poder de decisão sobre o conteúdo que querem ouvir e isso provocou uma verdadeira revolução no mercado fonográfico. Shakira fez uma transição sólida da era digital, em que serviços como iTunes comandavam o pedaço, para a era do streaming. Suas plataformas acumulam bilhões de fluxos sob demanda e a colocaram numa posição confortável em que mantem sua hegemonia no mainstream da música latina. Parte desse sucesso se deve à facilidade da colombiana de estar antenada às novas tendências. A rede social queridinha do momento é um exemplo disso.
O Tik Tok veio para ficar. No mês passado, o serviço anunciou que atingiu a marca de 1 bilhão de usuários ativos mensais no mundo, um crescimento de 45% em relação a 2020. Em agosto, ele foi a aplicação para smartphones mais baixada do planeta. E a plataforma tem uma forte relação com o mundo da música. Hoje (21), a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, da sigla em inglês) divulgou seu relatório de “Engajamento com Música”. O estudo explora as maneiras que as pessoas escutam, descobrem e se envolvem com música ao redor do mundo. Chama a atenção o fato das plataformas de vídeos curtos, como o Tik Tok, aparecerem no estudo pela primeira vez.
De acordo com o relatório, 68% do tempo que as pessoas gastam em aplicações como o Tik Tok envolvem vídeos de música, como desafios de dança e sincronização labial. Além disso, 62% concordaram ou concordaram fortemente que a música é o principal motivo que as fazem gostar das plataformas de vídeos curtos. A pesquisa ouviu 43 mil pessoas, de modo online, em 21 países, incluindo o Brasil.
A indústria fonográfica já havia percebido esse hábito de consumo dos usuários e o Tik Tok passou a ser mais uma plataforma de divulgação para artistas e gravadoras. Com Shakira, não seria diferente. Seu perfil na rede social conta com cerca de 17 milhões de seguidores. Seus vídeos curtos já foram curtidos mais de 70 milhões de vezes e seus desafios musicais viralizam com velocidade impressionante. E quando um vídeo com determinada canção viraliza na plataforma, ele acaba impulsionando a música nos serviços de streaming e garantindo o sucesso comercial da faixa. Várias canções só caíram no gosto das grandes massas depois de terem viralizado no Tik Tok. Também é comum que canções antigas voltem a ganhar atenção do público, depois que experimentam certo sucesso na plataforma com os famosos challenges.
“Girl Like Me”, da colombiana ao lado do grupo Black Eyed Peas, foi uma dessas canções que se beneficiou com o fenômeno Tik Tok. A coreografia pegajosa do clipe logo caiu na rede e milhões de usuários passaram a reproduzi-la em seus vídeos caseiros, gerando engajamento e alta performance da música no Youtube, Spotify, Deezer, Pandora e outras plataformas de streaming mundo a fora. Hoje o planejamento estratégico das gravadoras obrigatoriamente inclui o Tik Tok em suas decisões de marketing. Em seu lançamento mais recente, Shakira parece ter desenhado “Don’t Wait Up”para viralizar no serviço. Ela seguiu a cartilha muito bem, apostando em dancinhas pegajosas, com certa facilidade de execução e divulgando com exaustão os vídeos dos usuários em suas redes sociais.
Músicas antigas da artista também tiveram booms momentâneos nas plataformas de streaming depois de viralizarem no Tik Tok. Can’t Remember to Forget You (2014), por exemplo, experimentou dias de popularidade crescente no Spotify, chegando até mesmo a figurar entre as 200 mais tocadas do mundo, depois de uma Tik Toker famosa postar um vídeo ao som da canção. Foi a melhor semana de streamings da faixa no Spotify desde o seu lançamento. Fenômeno parecido já aconteceu com Hips Don’t Lie. E agora, com a proximidade do Halloween, a faixa She Wolf aparece com forte potencial para viralizar também.
E não há dúvidas de que os próximos lançamentos da artista também devem aproveitar o potencial de divulgação da rede social de vídeos curtos. Sua gravadora e seu time de marketing devem apostar pesado para que suas faixas recebam a atenção devida dos tik tokers de plantão e impulsionem seus lançamentos. Saber enxergar o potencial de uma nova ferramenta e fazer o uso assertivo dela parece ser mais um trunfo que a colombiana tem guardado nas mangas e usado a seu favor, em uma carreira que chega já na terceira década e, ao contrário de muitos de seus pares, em franco crescimento.