Maior periódico da Espanha publica crítica contundente sobre atuação de Shakira no Sant Jordi e não poupa elogios à cantora
Shakira se apresentou no último final de semana em Barcelona em duas noites de casa cheia no Palau Sant Jordi, maior arena multiuso da cidade. Aclamada pelo público por onde passa, a turnê da colombiana também tem arrancado elogios da imprensa. Em Londres, por exemplo, diversos veículos publicaram críticas favoráveis ao concerto da artista. Na capital da Catalunha não foi diferente. Jose Hidalgo, jornalista e crítico de música, escreveu uma resenha sobre o concerto do dia 06 de junho para o El País, maior e mais famoso jornal da Espanha. Com o título “Shakira impõe sua elegância, contenção e ritmo”, Hidalgo não poupa elogios à apresentação da cantora e destaca suas habilidades no palco e seu poder singular de entreter plateias inteiras com poucos recursos cênicos. Confira a crítica completa traduzida pela equipe do Shakira Brasil.
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Shakira impõe sua elegância, contenção e ritmo
O primeiro dos concertos da cantora no Sant Jordi em Barcelona, longe da vertigem das divas pop
O cenário dizia tudo. Aberto, diáfano, sem nada que atrapalhasse, projetado para que apenas uma pessoa pudesse preenchê-lo. Esta, pequena, estava vestida com uma camisa estampada e leggings de lantejoulas com generosas transparências que deixavam centímetros de perna tão visíveis quanto a sua própria figura e uma juba que escondia meia dúzia de Godivas. Primeiro se a escutou sem ser vista, dividiu o palco por uma linha cirúrgica de luz branca. De repente, tudo foi iluminado e em uma das aberturas de concerto mais marcantes e elegantes da temporada, Shakira surgiu enquanto as luzes se acendiam para iluminar a cena. A partir desse momento, tudo seria ela, tudo começaria e terminaria com a estrela de Barranquilla. O Sant Jordi cheio a seus pés.
Suas primeiras canções também deram o tom para o que seria a noite, um passeio por sua discografia com ênfase especial em seu último álbum, El Dorado, responsável por esta turnê adiada na época por problemas nas cordas vocais. E parte disso ainda era perceptível na voz de Shakira, que, sem estar cortada, parecia não ter o habitual poder e flexibilidade, evitando as mudanças de tonalidade. O público logo se esqueceu ao ouvir faixas como Si Te Vas, com vibe rockera , ou Perro Fiel, reggaeton que colocou milhares de corpos em movimento, ondulando-os como os cabelos de Shakira no palco. A estrela avançou pela passarela que estava entrando na pista e fragmentos de “El Perdón”, de Nicky Jam, apoiaram Shakira, simpática, comunicativa e alternando suas falas entre o castelhano e o catalão. E quando não falava, movia a pélvis exatamente como fez em “Me Enamoré”. E nem precisava dizer nada.
Depois do primeiro interlúdio, haveria mais dois, Shakira, que já havia trocado de roupa, mais uma vez demonstrou a cadência de seus quadris dançando, antes de cantar “Suerte”, algo como uma dança do ventre. E novamente a assistência a imitou sorrindo ainda mais que ela, como se a alegria fosse o único estado possível naquele momento. Confetes dourados para combinar com as escamas douradas de sua saia desgastada e faíscas caindo no palco definiram este momento, um dos mais brilhantes do concerto. Sem sombra de dúvidas, o show em nenhum momento foi atropelado por sucessões loucas de recursos, mas foi governado por elegância, um uso bem sucedido de luzes, às vezes dominado por uma única cor, e convicção de que Shakira é suficiente para preencher as retinas dos seus fiéis. Somente os interlúdios que o dividiram em quatro seções poderiam sofrer alguma objeção, mas ainda não descobriram um jeito de trocar de roupa sem sair do palco. Um dia descobrirão.
A primeira balada, “Tú”, surgiu na última metade do concerto, e fez lembrar a Shakira mais açucarada, que não pulsa com reggaeton, com as cadências de hip-hop de “Underneath Your Clothes” ou com o dub-reggae de “Can’t Remember to Forget You”. Então haveria mais baladas, “Antología”, sem ir além, mas o que restava já era fundamentalmente rítmico, um convite ao abandono que o público levou ao pé da letra, transformando o Sant Jordi em uma boate latina, com esses olhares desafiadores da sedução que são oferecidas mesmo quando duas pessoas dançam sem a intenção de seduzir umas às outras, apenas treinam como gatos que caçam quando brincam. E no palco o show não foi muito físico, bom contraste com aquela corrente do pop que transforma as divas em atletas imprudentes de lá para cá. Pareceu que a de Barranquilla começou a internalizar que o tempo castiga mais os atletas do que os cantores ou, simplesmente, que seu estado de espírito não era formidável apesar de, como ela mesma disse, estar em casa. Terno o momento em que mostra a parte de trás de seu violão com a foto do marido e dos filhos, presentes no espetáculo, e finalmente uma cena final: quando tocou “La Bicicleta” até os funcionários da arena dançaram . Shakira mantém seu pulso no início de sua maturidade como pessoa.
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Luis Hidalgo é comentarista musical. Trabalha na TV3 e colabora com o jornal El País desde os anos 80. Ele já trabalhou em diversas rádios e publicações como a revista Rolling Stone, Rockdelux, Guía del Ocio e Woman.
Para ler o texto original do jornalista em espanhol, clique aqui.