Milagre médico: Shakira revela novos detalhes de sua recuperação vocal em entrevista

Shakira está em seu descanso sabático. Após uma exitosa turnê que rodou o mundo nos últimos cinco meses, a cantora colombiana voltou à Barcelona, onde mora com a família. Quando encerrou sua série de shows com um concerto antológico em Bogotá, a artista aproveitou sua estadia no país e falou com diversos veículos da imprensa. Um deles foi o jornal El Tiempo.

Em uma entrevista produtiva e esclarecedora com o jornalista Jhon Montano, Shakira falou sobre o milagre de poder voltar a cantar, curiosidades da sua turnê e sobre a importância do acesso à educação de qualidade no processo de pacificação da Colômbia. Confira a entrevista traduzida pela equipe do SBR.

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El Tiempo: Como foi esta última turnê?

Shakira: Não posso pedir nada a mais da vida. Uma carreira musical que começou quando eu era muito pequena e que ainda hoje se mantem em pé. Os votos com esse público, a quem eu devo tanta generosidade e com o que eu tive a sorte de me conectar cada noite, foram renovados. Em Bogotá foi nossa última data da turnê El Dorado.

Os votos com esse público, a quem eu devo tanta generosidade e com o que eu tive a sorte de me conectar cada noite, foram renovados.

Este percurso termina com a temperatura nas alturas (risos). Mas este encerramento eu faço com uma grande felicidade, com muito agradecimento. Foi a turnê que eu mais me diverti em toda a minha carreira (risos).

El Tiempo: O país te esperava há muito tempo…

Shakira: Aconteceram muitas coisas e superei muitos obstáculos, mas saí fortalecida. E isso foi graças a meus amigos, graças a um publico maravilhoso que me ofereceu sua fidelidade incondicional por tantos anos.

El Tiempo: Por que havia se afastado dos palcos?

Shakira: Sofri uma lesão nas pregas vocais e permaneci muito tempo lutando para melhorar, acreditavam que eu não voltaria a cantar. Foi uma experiência muito difícil nos últimos tempos. Haviam me dito que a cirurgia era a única opção, mas eu não queria isso, e no final, aconteceu um milagre médico.

El Tiempo: Como superou essa lesão?

Shakira: Assim que sofri a lesão nas pregas vocais, fiz um percurso médico pelos Estados Unidos em busca de uma cura e com vários médicos. Todos recomendavam uma operação e diziam que eu não ia me recuperar sem uma cirurgia. Mas eu não queria passar pelo cirurgião.

El Tiempo: Como fez para voltar a cantar?

Shakira: O diagnóstico era que uma cura sem cirurgia era impossível. Mas o milagre aconteceu, eu acreditei que era possível, não precisei passar por um cirurgião, e com terapias e fé estou em pé outra vez, as noites, sobre o palco e cantando para meu público.

El Tiempo: Como vive esta nova realidade?

Shakira: Cada noite entrego tudo no palco e agradeço por ter podido voltar a cantar. É um milagre e agradeço ser útil para todas essas pessoas que vieram me ver, me escutar.

El Tiempo: Como é essa conexão com seus seguidores depois de tanto tempo?

Shakira: De alguma maneira sinto que quando eles vão embora, quando saem do show, vão cheios de alegria, vão cantando minhas músicas e então entendo que levei um pouco de felicidade para aquelas pessoas e essa é a tarefa mais importante.

El Tiempo: O que muda hoje na sua carreira?

Shakira: Os gostos mudaram, também os interesses, o que desperta a curiosidade. Pude experimentar diversos gêneros e apostei na versatilidade. Dizem que o prazer está na variedade (risos), então neste caso também se aplica.

Levo um processo de muitos anos, de queimar etapas, anos em que se evolui e que também se regride, mas é parte de ser artista e de construir uma carreira a longo prazo.

Comecei minha carreira aos 10 anos. Levo um processo de muitos anos, de queimar etapas, anos em que se evolui e que também se regride, mas é parte de ser artista e de construir uma carreira a longo prazo.

El Tiempo: Qual tem sido seu segredo para alcançar o reconhecimento mundial?

Shakira: Experimento diversos gêneros e colaboro com diversos artistas… se aproximar do universo de outros artistas enriquece. Esse intercâmbio e essa energia que se produz tem sido um grande acerto.

El Tiempo: Shakira retorna as suas origens?

Shakira: Sempre fui uma artista pop, mas tive épocas com matizes mais roqueiros, outras vezes românticos, dançantes, mas minha música é uma expressão honesta de quem eu sou, do acontece comigo no dia a dia e, claro, meus gostos vão mudando, mas antes de tudo sempre tenho sido honesta.

El Tiempo: O que esta turnê e esse espetáculo que você trouxe à Colômbia tem de especial?

Shakira: Neste show senti que um dos prazeres que me permiti foi fazer uma viagem por uma parte do meu repertório musical. Começar com “Estoy Aqui”, mas agora com uma versão muito mais eletrônica, e somente porque me apetecia submergir nessas águas, mas respeitando os acordes, a melodia, o espírito dessa canção e, ao mesmo tempo, convidar as pessoas a dançar como se fosse outra canção.

Também incluí Loba, lançada em 2009, e canções que escrevi aos 17 anos, como ‘Antologia’, e outras que escrevi no ano passado.

El Tiempo: Mas essa é uma carreira muito prazerosa e repleta de muitos êxitos. Com certeza para o público faltou algumas canções…

Shakira: Claro. Fiquei com vontade de incluir neste repertório algumas canções, como “Ciega, Sordomuda”, mas também não queria chatear as pessoas e que me tirassem do palco (risos): ” Oh, Shakira, já chega, por favor” (risos).

El Tiempo: Hoje, como está sua saúde e vitalidade depois de mais de duas décadas de carreira?

Shakira: Eu fiz o concerto mais longo da minha carreira: são duas horas no palco. Cantando, dançando, sem parar, nunca pensei que aos 41 anos poderia cantar e dançar desta maneira e resistir ao peso que carrego. Quando tinha 18 anos, meu irmão me levava nos braços do palco depois de um show de uma hora e quinze, ia com uma banana, com um “guineo”, como dizemos em Barranquilla (risos). Saía quase desmaiada e tinha 18 anos. Hoje saio cantando, dançando e não deixo ninguém dormir até às 4 da manhã.

El Tiempo: O que pensa e o que sente quando escuta a palavra Colômbia?

Shakira: Penso em cor. Nesse realismo mágico que Gabo (Gabriel García Márquez) criou, em gente alegre, persistente, resistente, gente recursiva que não aceita um não como resposta. Gente que sobreviveu a mais de 50 anos de conflito e guerra. Um povo que sobreviveu à pobreza, à corrupção e que, mesmo assim, não perdemos a esperança, a alegria. Sabe o que significa isso para um povo? Há povos que passaram pelo que nós passamos e são tristes. Nosso povo colombiano tem uma fortaleza de espírito e uma alegria de viver e a temos que fazer com amor.

El Tiempo: O que pensa do acordo de paz que a Colômbia assinou?

Shakira: Começou um processo de paz em que a Colômbia tem a oportunidade de seguir crescendo. Agora temos que pensar na nossa juventude para poder competir, para poder oferecer o que temos: um país imensamente rico em recursos naturais e humanos.

El Tiempo: Em que aspectos a Colômbia deve se fortalecer agora para consolidar a paz?

Shakira: A única maneira de cimentar esse caminho para a paz e para a igualdade e o progresso é através da educação. É a única forma que podemos pavimentar essa via: oferecer igualdade de oportunidades a todos os meninos e meninas colombianos.

El Tiempo: Hoje o país vive uma crise na educação em todos os níveis…

Shakira: Se há meninos e meninas que não têm acesso à educação o não tem acesso à mesma educação de qualidade que recebem as crianças que vivem em melhores condições, nunca poderemos dizer que este país está em paz. Nunca poderemos considerar a este como um país que vive em igualdade.

El Tiempo: Que alianças e estratégias propõe para dar esse salto a uma educação de qualidade?

Shakira: É uma responsabilidade do governo, do setor privado e de todos os cidadãos. É um debate que temos que elevar diariamente, uma exigência que temos que fazer aos governos e uma responsabilidade com nossas crianças: exercitar seu direito inalienável a uma educação de qualidade.

“A educação não é um luxo, é um direito que tem que se respeitar e se fazer valer”

A educação não é um luxo, é um direito que tem que se respeitar e se fazer valer.

El Tiempo: É preciso mais organizações, como a Pies Descalzos, que trabalhem pela infância?

Shakira: Claro! Comunidades como Villa de Aranjuez (região de Cartagena, onde Shakira colocou a primeira pedra para a construção de um mega colégio), com mais de 13 mil famílias, com sete mil crianças, dos quais há cinco mil fora da escola e só há dois colégios. Aqui precisamos de mais cinco escolas. Isso que acontece nessa comunidade é a radiografia do resto do país. É inaceitável que existam lugares como La Guajira e El Chocó, onde não chegam água e nem luz elétrica.

El Tiempo: Qual é o seu chamado ao governo colombiano em matéria de educação?

Shakira: As necessidades tão grandes que existem são um sinal de que é preciso aumentar os investimentos da educação. Temos que seguir tendo esse diálogo e aliança, entre o governo e o setor privado. Hoje, o governo tem que , enfim, assumir a responsabilidade. Este é um dever e o Estado deve oferecer educação de qualidade a todos os meninos e meninas.

El Tiempo: O problema está no povo colombiano, que se acostumou a não reclamar pelos seus direitos?

Shakira: Este é um país que se acostumou, que está anestesiado contra a dor alheia. Nós nos acostumamos a que milhares de crianças, por terem nascido pobres, têm que estar condenados à pobreza até morrer. Tem que haver mobilidade social neste país, e que se uma criança nasça pobre, tenha a oportunidade de seguir adiante e conquistar seus sonhos. E como vai comseguir, senão através da educação? Não podemos alcançar a paz e o progresso, se em Villas de Aranjuez há 5 mil crianças sem estudar. O que fazem essas crianças durante o dia? O que vão fazer quando tiverem 14 anos e quando chegarem aos 30?.

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Para ler a entrevista original na íntegra, em espanhol, clique aqui.

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