Editorial: Novo álbum de Shakira em inglês nos próximos anos seria erro de estratégia

Cerca de 10 bilhões de streams, centenas de discos de platina e ouro pelo mundo, uma turnê mundial bem-sucedida, Grammys e aclamação do público e da crítica. Essa é a síntese da última era musical de Shakira, que chegou ao fim no último dia 03 de novembro com o encerramento da sua El Dorado World Tour, em Bogotá, e lançamento comemorativo do vídeo clipe da canção “Nada”. O sucesso incontestável do seu trabalho discográfico chama ainda mais atenção quando consideramos que foi uma etapa de promoção de seu trabalho em espanhol.

Catálogos editados em inglês naturalmente tem uma facilidade de alcance global maior. O inglês é o idioma “oficial” de dois dos maiores mercados fonográficos do mundo, EUA e Reino Unido, e que juntos somam quase 1/3 de todo o faturamento com música gravada no mundo, segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, sigla em inglês). Além disso, há um comportamento dos mercados globais de consumirem música internacional, se editadas em inglês.

Shakira é uma das poucas artistas com verdadeiro alcance global que conseguiu ser uma exceção à essa regra. Mas ainda assim, seus trabalhos em inglês conseguiram um alcance muito maior que seus pares em espanhol. Seus dois discos mais vendidos da carreira são em inglês: Laundry Service (2001), com cerca de 13 milhões de cópias e Oral Fixation 2 (2005), com aproximadamente 8 milhões de cópias, segundo sua gravadora. Historicamente, a colombiana tem alternado seus lançamentos entre discos em inglês e espanhol para atender os diferentes tipos de mercados que abraçaram sua carreira ao longo dos anos.

Como seu último trabalho foi lançado em espanhol, é natural esperar que sua próxima incursão musical venha com predominância de músicas em inglês. Mas apostar nessa sequência pode vir a ser um grande erro de estratégia e colocar em risco o sucesso acendente dos últimos três anos.

O mundo finalmente aprendeu a ouvir música em espanhol em escala massiva. O momento nunca foi tão bom para o mercado de música latina no planeta. Além de Shakira, que se acostumou por décadas a ser a única latina cantando em espanhol a figurar no mainstream, artistas como J Balvin, Ozuna, Bad Bunny, Daddy Yankee e Luís Fonsi passaram a integrar o seleto grupo de cantores mais ouvidos do planeta. A popularidade das plataformas de streaming serviu para equilibrar a balança e redistribuir as forças na concorrida indústria musical e colocou o gênero latino e seus expoentes para brigar de igual para igual com forças do mercado norte-americano. Isso possibilitou que no ano passado, por exemplo, uma canção em espanhol brigasse pelo posto de single mais bem sucedido do ano com o êxito “Shape of You”, de Ed Sheeran. E “Despacito” fez bonito, com quase 30 milhões de cópias equivalentes vendidas naquele ano, em todo o globo, segundo a IFPI. Esse ano, outros artistas fizeram bonito. J Balvin e Ozuna conseguiram o feito de ficar entre os 10 artistas mais ouvidos no mundo no Spotify. No Deezer, o colombiano J Balvin foi além, desbancando Drake e conquistando o posto mais alto dos mais ouvidos globalmente.

O mundo está de olho e com ouvidos atentos ao que se está produzindo no universo hispânico. E temos observado um fenômeno de inversão. Diversos artistas norte-americanos têm procurado cantores latinos para bombar suas produções. A rapper Cardi B, por exemplo, lançou o single “I like It”, com J Balvin e Bad Bunny e virou um verdadeiro sucesso. A música foi a #3 com melhor desempenho em 2018, nos EUA, segundo a Billboard. O DJ Shake seguiu caminho parecido ao chamar o porto-riqurnho Ozuna para gravar “Taki Taki”, ao lado de Selena Gomez e Cardi B. O resultado foi mais uma canção de enorme alcance global e estouro nas plataformas digitais.

Assim, focar no inglês agora seria desperdiçar o ótimo momento que a música em espanhol vem vivendo. Uma estratégia que poderia dar certo seria investir no spanglish e no “crossover reverso”. Shakira tem um alcance imenso nos mercados emergentes, que são os que mais tem crescido no consumo de música licenciada, segundo a própria IFPI. Gravar sucessos com mesclas de inglês e espanhol, como “Taki Taki”, por exemplo, com um jovem artista anglo, seria um tiro certeiro quanto aos anseios atuais do mercado. É imperativo, nesse sentido, que seu descanso sabático, não seja tão demorado quanto seus anteriores. Retirar-se por mais 3 anos seria outro erro com cada vez menos chances de correção.

O consumo de música gravada legal hoje é feito majoritariamente por um público jovem, informou o Insight Report 2018, da IFPI. E jovens anseiam por novidades o tempo todo. Assim, nos parece razoável que Shakira deva lançar algum material inédito (single) já no próximo ano. Ainda que eventualmente ela venha lançar singles em inglês, ela não deve abandonar o mercado latino na sua próxima era e seguir os passos de seus colegas latinos mais jovens e repetir seus feitos do passado: levar a música em espanhol para patamares ainda maiores. E para Shakira, o céu é o limite.

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