Na última segunda-feira (14), Shakira concedeu uma breve entrevista à rádio online Beats 1, da Apple Music. Na rápida conversa com Zane Lowe, ela falou sobre sua carreira no momento e seus vários novos projetos. Transcrevemos e traduzimos o conteúdo da entrevista para você a seguir:
Zane: Shakira, ter participado desta música com Pedro e Camilo deve ter sido muito empolgante para você, mas é muito estranho também, não é o tipo de coisa que você faz, entrar numa música assim, a esta altura do campeonato, depois de já estar fazendo tanto sucesso.
Shakira: Eu sei, nunca fiz nada assim antes na vida mas essa música é contagiosa, não consigo tirá-la da cabeça, então decidi participar. Obviamente, pedi ao dono se podia mergulhar e ele concordou, então as engrenagens começaram a girar e acabei fazendo um remix. Aconteceu de maneira muito orgânica e acho que isso é o mais legal disso tudo.
Zane: O que é legal é que você ouviu a música, sentiu vontade de participar e depois disso sentiu que poderia adicionar algo a mais, algo que você fez tão lindamente e que se encaixou na música perfeitamente. Mas deve ter sido motivo de nervosismo para você estar nesta posição. Com tantos prêmios, uma das artistas mais lendárias de todos os tempos, chegar para alguém e dizer ‘ ei, posso participar desta música?’ deve ter sido meio estranho…
Shakira: [risos] Mas também muito divertido. Camilo é tão fantástico e Pedro também. Ele é um cara legal de verdade, um talento novo, colega colombiano. Fico tão animada de estar o apoiando e também de ser parte desta música que já tem colhido tanto frutos tão merecidamente, porque ele é muito esforçado e muito talentoso. Eu me sinto lisonjeada de ser parte disso tudo e é divertido também. É uma das vantagens da era em que vivemos na música hoje, tudo parece muito livre. Você pode colaborar com qualquer um, quando quiser, não precisa esperar até que tenha um disco todo pronto, é só ter ideias e colocá-las para fora.
Zane: Queria saber como esta música se encaixa no que você tem feito e no que tem trabalhado
Shakira: Estou muito ligada agora, não consigo parar de pensar em ideias. Pego toda a informação que recebo e transformo em inspiração. Ontem terminei uma música e eu estava muito animada porque acho que vou lançá-la em breve. Na verdade, terminei remotamente porque saí para o fim de semana, mas acho que já a tinha deixado mais ou menos onde queria na sexta. Trabalhei nela a semana passada toda então no fim de semana apenas terminei de fazer os ajustes e fiquei muito empolgada. Mostrei para a minha empresária ontem e ela ficou louca. Todo mundo no escritório, na minha equipe, acha que é incrível. Então é isso, estou muito animada. Só quero lançar minha música.
Zane: Não é engraçado, mesmo para alguém como você, que já conquistou tanto, que esta confiança em sua equipe, nas pessoas em quem você confia, é só o que o que você precisa para dizer “vamos lá, vamos fazer isso”?
Shakira: Claro, você sempre precisa do feedback da sua equipe, das pessoas que te cercam, você meio que precisa da bênção deles. Sabe, eu posso fazer o que eu quiser, posso lançar o que eu quiser, mas claro que eu curto ter minha equipe a bordo comigo. Eles não sabiam que eu estava trabalhando em alguma coisa e eu os surpreendi completamente. Enviei para a equipe toda ontem e eles enlouqueceram. Então, estou muito animada, mal posso esperar para compartilhar o que estou trabalhando.
Zane: Tanta coisa mudou nos últimos anos, o cenário mudou. Acho que este é um dos momentos mais animadores para os artistas vindos da música latina, a capacidade de se mover através de mercados e colaborar, fazer coisas que são únicas e incríveis . Você tem estado a frente disso tudo há tanto tempo, deve ser incrível ver tudo tomando forma e reconhecer esta empolgação, se alimentar disso, saber que há tantas pessoas de tantas gerações e estilos diferentes fazendo coisas legais por aí.
Shakira: É animador, porque uma das minhas coisas favoritas é a fusão, pegar elementos de mundos diferentes e fazê-los coexistir em harmonia. Eu me lembro que quando comecei com músicas como ‘La Tortura’, que é basicamente um reggaeton, com alguma influência espanhola e de flamenco, as pessoas pensaram que eu era louca, porque eu estava pegando um tipo de música urban muito regional, local, que era proeminente em Porto Rico e no Caribe, e tentando fazer soar pop em um momento em que ninguém estava fazendo reggaeton na cena pop. Agora é tão mais fácil, é como fusion cuisine, é o mesmo conceito: chefs diferentes, com influências diferentes na mesma cozinha preparando pratos. Eu sempre acabo falando de comida. [risos]
Zane: Está falando minha língua [risos]. Isto te deixa mais animada para se aventurar e experimentar coisas novas agora que você sabe que muito mais é possível?
Shakira: Sim, com certeza. Agora há uma incrível liberdade criativa para todo mundo, embora eu sempre tenha me arriscado. Acho que não há outro jeito de fazer música que não seja se arriscar e sempre tentar evoluir. Sabe, é desafiador tentar encontrar sons que sejam de alguma maneira familiares para coisas que não sejam muito loucas ou muito estranhas para as pessoas, mas ao mesmo tempo dentro da sua zona de conforto, onde você é criativo. Este sempre foi o desafio para mim.
Zane: Você tem pensado de maneira criativa no que vai acontecer no dia 2 de fevereiro? Este é o maior evento, você e Jennifer Lopez. Como você está se sentindo, mesmo a tantos meses?
Shakira: Vai ser no dia do meu aniversário! Sempre quis me apresentar no Superbowl, acho que é o santo graal da indústria do entretenimento. É um evento esportivo mas tem uma grande relevância para nós artistas e acho que vai ser fantástico. Vou estar comemorando meu aniversário com 100 milhões de pessoas. Vai ser uma festinha, surreal.
Zane: Onde você estava quanto a negociação aconteceu e como Jennifer Lopez e você entraram num acordo para saber que era algo que vocês queriam fazer juntas?
Shakira: Jay Z, que está produzindo o show, me ligou e perguntou se eu tinha interesse em fazer parte e claro que eu não hesitei. Disse ‘claro, conte comigo’ e ele disse que a Jennifer também estaria envolvida e eu acho que vai ser incrível, porque ela representa uma parte importante da comunidade latina nascida e criada nos Estados Unidos. De certa maneira, acho que eu represento outra parte da comunidade latina, que são todas aquelas pessoas ao redor do mundo que mal falam inglês e também uma grande porção da população que chega nos Estados Unidos com um sonho americano, por isso acho que vai ser um grande evento para celebrar a cultura latina e também a importância das mulheres na indústria.
Zane: Já está pensando criativamente? Sua mente deve estar pensando em maneiras de fazer isso, e claro, há tanta oportunidade para colaboração…
Shakira: O tempo é muito curto e portanto muito desafiador, mas as engenhocas já estão em movimento e não consigo parar de pensar em ideias. Todo dia tenho uma nova ideia então agora é uma questão fazê-las funcionarem juntas. Preciso ter tempo para consolidar isso tudo e apresentar o melhor show da minha carreira em quatro ou cinco minutos ou o que quer que seja [risos].
Zane: Fale para nós sobre a criação do documentário e o que você aprendeu com essa experiência como um todo.
Shakira: Bom, este é um filme do meu show, a El Dorado Tour, que foi uma turnê muito desafiadora, porque eu passei por muita coisa logo antes de ela começar. Na verdade, foi no meio dela, quando eu estava prestes a começar. Perdi minha voz, tive uma lesão nas cordas vocais, um acidente. Por um instante eu achei que nunca mais seria capaz de cantar de novo. Na verdade por alguns meses. Foi uma das coisas mais difíceis pelas quais já passei na minha vida. Eu me consultei com muitos médicos e todos eles diziam que eu tinha que fazer uma cirurgia e que não tinha outro jeito de recuperar minha voz, e uma cirurgia era obviamente algo muito arriscado, então você pode imaginar o pesadelo que foi. Eu não podia falar, não podia falar com meus filhos, precisava permanecer em repouso vocal por longos períodos de tempo e aí um milagre aconteceu. Não precisei de nenhuma cirurgia e foi um final feliz para a minha história e a história dessa turnê, então acho que poder ter tudo isso em um documentário que vai contar para as pessoas a história de como tudo aconteceu e como foi o processo criativo, o processo agridoce de trazer isso para as pessoas vai ser fantástico, e o fato de que todos vamos estar assistindo simultaneamente em 65 países significa muito para mim.
Zane: Neste ponto, do outro lado deste desafio, você diria que este é o momento mais recompensador de sua carreira?
Shakira: Eu me sinto realizada como mulher, como ser humano e especialmente por causa da minha família. Acho que a família que Deus me deu é uma das minhas maiores bênçãos e também sinto que 2020 vai ser um ano muito especial, maior do que nunca, com muitos desafios pela frente. Também vou me apresentar no encerramento da Copa Davis logo logo, em novembro, então estou colocando muita da minha energia criativa nisso. Vai ser incrível por que é como a copa do mundo de tênis. Pela primeira vez eles mudaram o formato e vão fazer as coisas de um jeito diferente. Há muitos projetos e muitas coisas com que lidar, então sinto que estou fazendo malabarismo com mais de três maçãs ao mesmo tempo e ainda tenho que ser mãe, que consome a maior parte do meu tempo – é o maior trabalho da minha vida, o trabalho mais difícil que já tive, com certeza. Mas estou muito animada com o futuro e me sentir criativa também me faz me sentir viva.