Levi Tavares – Certa vez me perguntaram por que eu gostava tanto da Shakira? E respondi assim de supetão, sem pensar muito: “porque ouvindo Shakira eu ouço de tudo!”. Hoje, indo para o trabalho, coloquei algumas músicas dela para ouvir em um serviço de streaming no modo aleatório e me veio à mente aquela resposta de anos atrás. Há um som incrivelmente eclético vindo da discografia da Shakira, com incursões nos mais diversos gêneros e fiquei confabulando isso comigo mesmo nos minutos que me restavam de trajeto. E esse ecletismo ajuda a explicar, por exemplo, sua incursão recente pelo reggaeton e pelo trap no disco El Dorado, para muito além de uma questão comercial.
Alguns de seus colegas do pop também pegaram carona na onda do sucesso da música urbana da América Latina. Mas nem todos tiveram o mesmo êxito. Jennifer Lopez, por exemplo, tentou surfar nas mesmas águas, mas viu suas canções alcançarem um desempenho modesto e muito aquém do esperado.
O sucesso expressivo de Shakira se deve, dentre outros, ao fato de que suas experiências musicais com novos ritmos soam de modo natural. Não é um oportunismo simplista ou um simples “indo onde a corrente do mercado levar”, ainda que o boom do gênero urbano possa ter contribuído em suas escolhas. A cantora, inclusive, já havia flertando com o gênero muitos anos antes de ele ter se tornado um fenômeno mainstream. Em 2005, ela apresentou ao mundo, ao lado do colega espanhol Alejandro Sanz, o hit La Tortura. A música mistura as típicas batidas do reggaeton com instrumentos diversos e foi um verdadeiro estouro no mundo todo, mesmo em espanhol. Segundo a United World Charts (UWC), a música foi a 5° mais vendida no mundo naquele ano, a frente de sucessos de Madonna (Hung Up), James Blunt (You’re Beautiful), Coldplay (Speed of Sound) e Gwen Stefani (Hollaback Girl). E tudo isso sem um remix com um artista Anglo.
A versatilidade de Shakira lhe conferiu autoridade para circular no mundo do urbano como se fosse seu e garantiu o êxito natural de El Dorado. E esse modo natural de fundir elementos musicais distintos vem de longe. Em um documentário publicado em 2004, ela confessa diante das lentes de Ramiro Agulla: “Gosto de misturar estilos. Gosto de fazê-los coexistir. É legal sentir-se livre para pegar um charango indígena, uma guitarra elétrica e um dumbec árabe e colocar tudo junto na mesma canção. É o tipo de coquetel que eu gosto”.
Shakira estava se referindo ao clássico “Whenever, Wherever” (2001), que era uma mistura de música andina, pop latino e worldbeat. Mas suas experiências alcançam um número considerado de ritmos que poucos artistas do topo da cadeia alimentar da indústria fonográfica ousariam flertar.
Quem misturaria tango argentino com punk? Ou música árabe com rock? Shakira o fez. E mais: funcionou.
Há também muita influência de ritmos brasileiros em suas produções. Os tambores da batucada baiana foram incorporados em uma versão alternativa de “Objection” e na música do Mundial, La La La (Brazil 2014). Em uma linha mais clássica, ela ainda gravou uma bossa nova para seu álbum Fijacion Oral 1. A faixa “Obtener un Sí” chegou até a ser trilha sonora de novela do horário nobre da TV Globo.
Nas mais de 100 músicas do catálogo da artista ainda é possível identificar gêneros como o mariachi, merengue urbano, cumbia, vallenato, bachata e country.
Essa pluralidade de ritmos confere à Shakira um status quo único no panorama musical. Ela é uma das poucas artistas que consegue fundir elementos tão distintos e fazê-los funcionar em harmônia. Ela pode tudo. Ela fez tudo. Eu estava certo: ouvindo Shakira, ouve-se tudo!
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Levi Tavares é redator online e cursou jornalismo no Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES-JF). Já foi produtor de conteúdo online e social media na Rádio Solar JF e redator na Revista Pleased.
Este artigo reflete exclusivamente as ideias e opiniões do autor e não representam, de maneira alguma, posicionamentos ou proposições do Shakira Brasil.